Pular para o conteúdo principal

Uma rápida conversa com Fábio Namatame

 

Aproveitando que o espetáculo Mulheres que Bebem Vodka continua em cartaz e cumpre temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, até 11 de novembro, o Manga conversou com o cenógrafo e figurinista Fábio Namatame que veste um elenco só de mulheres, encabeçado pela atriz Selma Egrei.1

A peça com direção de Lígia Cortez e texto do mexicano Victor Hugo Rascón Banda, apresenta cinco mulheres estrangeiras que se encontram em um estúdio de cinema na Cidade do México para a seleção do elenco de um filme. Uma autora (Patricia Gaspar), duas atrizes (Martha Nowill e Maria Manoella), uma produtora (Selma Egrei) e sua assistente (Regina França) dividem com humor as histórias e aflições de quem deseja encontrar o seu lugar no mundo. As histórias de vida dessas mulheres misturam-se à história do romance autobiográfico de Joanna, a autora.
Rapidamente se instaura um jogo inusitado onde o que essas mulheres realmente são e o passado que viveram, confundem-se com o que elas inventam sobre sua história e origem.

fabio_namatame_intFábio, você dedica-se exclusivamente ao figurino. Como foi o início de carreira e quais trabalhos foram mais representativos? Sim, hoje trabalho com figurinos e cenografia para teatro, ópera, cinema, musicais e shows. Iniciei meu contato com o teatro como ator, fiz alguns cursos de expressâo corporal, mímica, dança, e simultaneamente, fiz cursos de comunicação e artes pela FAAP. O reconhecimento veio com o figurino de Mémorias Póstumas de Braz Cubas, que me rendeu o prêmio SHELL. Também houve esse reconhecimento pelo meu trabalho em Apocalise 1.11 do Teatro da Vertigem. Em ópera, também recebi o prêmio Carlos Gomes com Madame Butterfly.
Como costuma criar seus figurinos? Descreva um pouco sobre os recursos que utiliza para realizar seus projetos. Procuro sempre pesquisar imagens, sejam elas vindas da fotografia, pintura, ou mesmo de esculturas.  As artes plásticas e a moda são minhas grandes fontes de inspiração.
Como vê o ofício do figurinista atualmente? Você acompanha outros espetáculos? Quais são suas referências? Acredito que há pouco interesse em criação de figurinos para teatro ou cinema. Dessa forma, procuro sempre assistir ao máximo de espetáculos que estão em cartaz. Sempre tive muito interesse no movimento cultural como um todo, em especial o teatro, que reflete todos nossos sentimentos, sonhos e críticas em torno do nosso cotidiano.
Você costuma executar partes da confecção do figurino - modelagem, corte, costura, customização ou terceiriza? Sim, acompanho cada passo da confecção. Quando a demanda é grande, conto com uma equipe que executa a produção dos figurinos, mas todo o acabamento , tingimento e adereços ficam por minha conta.

Como surgiu o convite para realizar os figurinos de AS MULHERES QUE BEBEM VODKA?  O convite veio por meio da diretora Ligia Cortez, com quem já tive parceria em outras montagens.

2

  E como foi seu trabalho com ela? A Lígia tem um método dinâmico e bastante orgânico. Um modo de trabalho que a possibilitou encontrar nas atrizes elementos necessários para a construção da peça. Além disso, há nela uma delicadeza que a fez conduzir o espetáculo para um teatro entre o real e o absurdo. Sempre há uma troca muito boa com ela, algo gratificante, pois ao mesmo tempo que nos compreende e aproveita as sugestões, realiza tudo com maestria.

3

Como são os figurinos que sustentam estas mulheres que bebem vodka? O interessante é que nesta montagem busquei criar um desenho de figurino num tom acima da realidade, algo que tivesse um efeito “quase falso” – um teatro-cinema. Meu objetivo era suscitar dúvida no que se refere a linguagem. É peça ou um filme? Fui compondo as vestimentas em contraponto com a evolução da montagem. Foi algo bem processual. 4

 Novos projetos? O que vem pela frente ? Muito trabalho. Agora no finalzinho de setembro, no dia 30 estreia o espetáculo A PANTERA, no Centro Cultural São Paulo, depois tem O AMOR, no Teatro Tuca, seguidos de SAMBA, no Teatro Sérgio Cardoso e  EVITA, no Teatro Alfa. Todos aqui em São Paulo.

Fotos de Edson Kumasaka

SERVIÇO
Data: 1º de setembro a 11 de novembro
Horário: Terça a quinta, às 19h30
Local: Teatro | R. Álvares Penteado, 112 - Centro
Bilheteria/Informações: Terça a domingo, das 10h às 20h | Telefones: (11) 3113-3651/52
Ingressos: R$ 15 (inteira) | R$ 7 (meia entrada para estudantes, professores, funcionários e correntistas do Banco do Brasil e maiores de 60 anos)
Classificação: 14 anos

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

JC Serroni em editorial sobre decor inspirado em obras teatrais e ópera

Sob a batuta do mestre da cenografia J. C. Serroni, Casa Vogue produziu para sua edição 320 um ensaio fotográfico que leva a magia do teatro para o universo da decoração de interiores. São ambientações que convidam o leitor a imaginar espaços residenciais como verdadeiros cenários de peças e óperas como A Flauta Mágica , de Mozart, Dias Felizes , de Samuel Beckett, Senhora Macbeth , adaptação de Griselda Gambaro para Macbeth de Shakespeare, e a brasileiríssima Toda Nudez Será Castigada , de Nelson Rodrigues. Toda Nudez Será Castigada , de Nelson Rodrigues. A Flauta Mágica , de Mozart Dias Felizes , de Samuel Beckett Senhora Macbeth , adaptação de Griselda Gambaro para Macbeth de Shakespeare Na página da Casa Vogue é possível conferir o vídeo com o making of da sessão de fotos: http://casavogue.globo.com/interiores/video-teatro/

BARAFONDA - Cia. São Jorge de Variedades

Estive na tarde de sexta-feira, dia 4/6 acompanhando a Cia. São Jorge de Variedades pelas ruas do bairro da  "BARAFONDA", alias, Barra Funda - o primeiro é o nome da nova montagem da  premiada companhia. Com duração de 4 horas e com um trajeto de quase dois quilômetros, que confesso, não se percebe, o espetáculo tem início na Praça Marechal Deodoro, depois segue pela Rua Lopes de Oliveira, atravessa a linha do trem por uma passarela e termina na Praça Nicolau de Morais Barros. São 25 atores e 4 músicos em cena, 150 figurinos e dois pequenos carros alegóricos. Em 2010, entrevistei o coletivo de arte CASA DA LAPA , que novamente assina a direção de arte desse novo trabalho. Um grupo afinado com a pesquisa da cia. e que neste novo projeto parece traduzir ainda mais as aspirações estéticas da São Jorge. Materiais que são descartados pela cidade, aparecem em diversos adereços ou complementando  parte da cenografia que tem a cidade em plena atividade como p

Eiko Ishioka

Faz um tempo que estou ensaiando para criar um post a respeito de Eiko Ishioka , premiada figurinista, designer gráfica e artista multimídia, que morreu em janeiro deste ano vítima de um câncer no pâncreas aos 73 anos. Mais conhecida por seus figurinos ousados e surreais, atrelados à produções de fantasia e sinônimos de visuais arrebatadores, Eiko foi vencedora de um Oscar por “Drácula de Bram Stoker” (1992). Nascida em Tóquio em 12 de julho de 1938, ela sempre foi encorajada artisticamente por seu pai, um designer gráfico, que apesar do apoio também a alertou que seria mais fácil ser bem-sucedida em outra área que não a artística – felizmente, estava errado. Eiko se formou em 1961 na Universidade Nacional de Belas Artes de Tóquio e juntou-se à divisão de propaganda da gigante dos cosméticos Shiseido. Em 1973, recebeu o convite para desenvolver seu primeiro comercial – para a Parco, uma rede de complexos de butiques. A peça trazia uma mulher negra alta de biquini preto, dança