Faz um tempo que estou ensaiando para criar um post a respeito de Eiko Ishioka, premiada figurinista, designer gráfica e artista multimídia, que morreu em janeiro deste ano vítima de um câncer no pâncreas aos 73 anos. Mais conhecida por seus figurinos ousados e surreais, atrelados à produções de fantasia e sinônimos de visuais arrebatadores, Eiko foi vencedora de um Oscar por “Drácula de Bram Stoker” (1992). Nascida em Tóquio em 12 de julho de 1938, ela sempre foi encorajada artisticamente por seu pai, um designer gráfico, que apesar do apoio também a alertou que seria mais fácil ser bem-sucedida em outra área que não a artística – felizmente, estava errado.
Eiko se formou em 1961 na Universidade Nacional de Belas Artes de Tóquio e juntou-se à divisão de propaganda da gigante dos cosméticos Shiseido. Em 1973, recebeu o convite para desenvolver seu primeiro comercial – para a Parco, uma rede de complexos de butiques.
A peça trazia uma mulher negra alta de biquini preto, dançando animadamente ao lado de um homem diminuto em trajes de Papai Noel. O surrealismo da imagem causou sensação e Ishioka atendeu a Parko por mais de uma década. A ousadia marcou a parceria com a Parco e ajudou a firmar sua reputação – seus anúncios impressos às vezes traziam modelos nuas ou semi-nuas, uma raridade para a propaganda japonesa da época.
Sua incursão no cinema aconteceu no ano de 1985, através de um convite do cineasta Paul Schrader (roteirista de “Táxi Driver”) para desenvolver os figurinos de “Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos”, sobre a vida do escritor e dramaturgo japonês Yukio Mishima. Pela obra, Eiko foi premiada no Festival de Cannes com um troféu especial de Melhor Contribuição Artística.
O filme tinha produção de Francis Ford Coppola, que se encantou com o trabalho da estilista e a convidou para desenvolver o figurino de sua última obra de impacto cinematográfico. A parceria resultou na extravagância gótica “Drácula, de Bram Stocker”, em 1992.
No filme, Ishioka misturou várias referências para compor um visual único, que tinha como base suntuosas peças do fim do século 19, mas trazia também modelos arrojados, como uma armadura usada pelo Conde Drácula (Gary Oldman, de “O Espião Que Sabia Demais”), que simulava tecido muscular exposto – carne viva e sangrenta. Também havia um vestido de noiva vampira, com uma enorme gola de babados, baseada na anatomia de lagartos.
O visual inovador foi consagrado pela Academia de Arte e Ciências Cinematográficas com o Oscar de Melhor Figurino.
No entanto, sua parceria de maior sucesso foi com o diretor indiano Tarsem Singh, que rendeu quatro filmes: “A Cela” (The Cell, 2000), “Dublê de Anjo” (The Fall, 2006), “Imortais” (Immortals, 2011) e o ainda inédito “Espelho, Espelho Meu” (Mirror, Mirror, 2012). Ou seja, todos os filmes da carreira do cineasta.
Em “A Cela”, Ishioka montou um adereço facial para a atriz Jennifer Lopez, que evocava um colar ortopédico. Incomodada pelo enfeite, Lopez pediu para que Ishioka tornar o objeto mais confortável, entretanto, a figurinista negou o pedido dizendo: “Não. Você está sendo torturada na história, então deve se sentir torturada”.
Em “A Cela”, Ishioka montou um adereço facial para a atriz Jennifer Lopez, que evocava um colar ortopédico. Incomodada pelo enfeite, Lopez pediu para que Ishioka tornar o objeto mais confortável, entretanto, a figurinista negou o pedido dizendo: “Não. Você está sendo torturada na história, então deve se sentir torturada”.
Outras contribuições ao cinema foram feitas nos figurinos do drama independente “Closet Land” (1991), sobre tortura de presos políticos, e o espanhol “Teresa, el Cuerpo de Cristo” (2007), em que explorou a iconografia dos santos católicos.
Além dos filmes, ela assinou os uniformes de alguns membros das equipes japonesas, suíças, espanholas e canadenses nas Olimpíadas de Inverno em Salt Lake City em 2002, mesmo ano em que desenvolveu os figurinos do festejado espetáculo “Varekai”, do Cirque du Soleil. A experiência com os espetáculos ao vivo lhe rendeu convite para trabalhar como diretora de design da cerimônia de Abertura das Olimpíadas de Pequim, em 2008.
Para os palcos da Broadway, a artista criou sets e figurino da montagem de ““M. Butterfly”, que lhe rendeu duas indicações ao prêmio Tony em 1988, e, mais recentemente, também assinou os figurinos da montagem da peça do Homem-Aranha, “Spider-Man: Turn Off the Dark”, atual sensação da temporada teatral nova-iorquina.
Seus dotes artísticos ainda se estenderam ao campo da direção, quando dirigiu o estranhíssimo clipe da canção “Cocoon”, da cantora Björk, em 2002. O vídeo trazia Björk aparentemente nua, enquanto fios vermelhos saíam de seus mamilos, eventualmente envolvendo-a num casulo, cujo conceito mais se aproxima de uma instalação de arte contemporânea.
Sua relação com as artes resultou em obras variadas, que levaram sua criatividade tanto para espetáculos de mágica de David Copperfield quanto a shows musicais da cantora Grace Jones.
O último trabalho de Eiko Ishioka pode ser visto no filme de Tarsem Singh, ESPELHO, ESPELHO MEU, uma das releituras da história de Branca de Neve. Como o filme tem tom de fábula e é voltado para o público infanto-juvenil, é interessante ver como Ishioka brinca com essas referências para construir todo o figurino.
Abaixo, detalhe do minucioso trabalho em Espelho, Espelho Meu desta grande artista que foi Eiko Ishioka.
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