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Memória da Cana - últimas apresentações

PARA QUEM AINDA NÃO VIU
Antes do Manga viajar para acompanhar parte do Festival de Curitiba, estivemos no espaço da Cia. Os Fofos Encenam para uma rápida conversa com Newton Moreno e Marcelo Andrade. Diretor e ator respectivamente,  que também são responsáveis pela cenografia do espetáculo Memória da Cana, eleito como um dos melhores de 2009 pelo Guia da Folha e Veja SP e com várias indicações nos prêmios Shell, APCA e CPT. A montagem que também esteve na mostra oficial do Festival de Curitiba entre os dias 27 e 29,  têm últimas apresentações na capital paulista. Em seguida a Cia. segue com a mostra de quatro outras peças de seu repertório.

Sob direção de Newton Moreno, o quinto espetáculo do grupo é uma livre adaptação de Álbum de Família, de Nelson Rodrigues. O diretor dá continuidade ao movimento de retorno às origens pernambucanas também presente em Agreste, Assombrações do Recife Velho e As Centenárias e traz o enredo rodrigueano ao ambiente do engenho pernambucano estudado por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala. Além das obras de Rodrigues e Freyre, a peça se baseia ainda em memórias familiares dos próprios atores.

O ESPETÁCULO


Jonas, o patriarca da família, é apaixonado pela filha Glória, e ela por ele. Para satisfazer esse desejo, ele adquire o hábito de trazer adolescentes em casa para tirar sua virgindade, contando, para isso, com a ajuda da cunhada Rute, que também é apaixonada por ele. A mãe, D. Senhorinha, assiste a tudo e se mantém impassível. Os conflitos eclodem quando os filhos retornam para o lar: Glória, expulsa do colégio interno por se envolver com uma garota; Guilherme, apaixonado pela irmã, castra-se e abandona o seminário à procura de Glória; Edmundo, expulso de casa pelo pai, abandona a mulher com quem se casou, recentemente, por uma paixão velada pela mãe.


A CENOGRAFIA
Acima a planta que ilustra a divisão dos cômodos da grande casa de Memória da Cana

O galpão-sede dos Fofos foi transformado em uma casa-grande freyriana: no centro, a sala com uma mesa de 13 metros, local de reunião familiar, onde os embates acontecem. A mesa foi criada a partir da observação da viga principal de madeira que estrutura um telhado de engenho. Embora pareça extremamente pesada foi toda construída de papelão e em módulos para que os atores pudessem retirá-la de cena ao final do primeiro ato. Ao redor dela, seis quartos dos membros da família, com seus respectivos pertences: o berço, a penteadeira cheia de santos, o genuflexório com o milho para fazer se ajoelhar em penitência ou castigo, o oratório, a cadeira de balanço.


A mesa, um objeto maciço, forte, carregado de memória e que foi criado a partir da observação das vigas que sustentam os engenhos.

Destaque também para as três mil canas utilizadas no espetáculo e que ficam  logo após o "bololo", nome dado a tela que serve para criar as paredes que limitam os cômodos. Este nome foi dado pela Cia. que brinca falando a respeito da versatilidade do material, da transparência e de como serve bem ao propósito da cenografia de Memória da Cana.  

Outro objeto importante e utilizado pela sonosplastia é a máquina de vento, engenhoca utilizada em óperas, pesquisada pela Cia. e recriada pelas mãos de José Valdir, cenotécnico da Cia. Para o espetáculo temos duas máquinas, uma maior e outra menor e tem muita gente que fica surpreso com a semelhança que há com o som provocado por uma ventania, comenta José.

Na planta acima, os espaços e a localização dos elementos cenográficos.

Cada quarto tem também o seu cheiro característico: as naftalinas guardadas no armário da mãe, o cheiro da colônia de barbear do pai, o Vick Vaporub no quarto de Guilherme, o cheiro de canela que circunda Edmundo, o talco que perfuma o quarto de Glória e o cheiro de pó de arroz antigo na penteadeira da tia. “A ideia era fazer com que o espectador fosse estimulado não só pela imagem e pela fala, mas também por seus outros sentidos. E esses cheiros característicos também foram trazidos a partir da pesquisa em cima das nossas lembranças. A Água Velva, tradicional loção pós-barba, era um elemento que me lembrava meu pai. A naftalina era um cheiro que lembrava os armários da casa da avó e da mãe de Luciana, e assim por diante”, conta o ator Marcelo Andrade.
  

OS FIGURINOS
Leopoldo Pacheco,  responsável pelos figurinos e maquiagem de Memória da Cana não foi entrevistado pelo Manga em razão de estar envolvido em outros projetos numa agenda apertadíssima. Em agosto de 2009, Alexandre D'Angeli, a convite do guia do Estadão, comentou alguns figurinos de espetáculos em cartaz na cidade, dentre eles o de Leopoldo, na página 81.

Página 80
http://digital.estadao.com.br/download/pdf/2009/08/21/GUIA80.pdf

Página 81
http://digital.estadao.com.br/download/pdf/2009/08/21/GUIA81.pdf
 
A mostra de repertório dos Fofos Encenam segue com Ferro em Brasa, de 15 de maio a 26 de julho; Deus sabia de tudo..., de 4 de junho a 23 de julho; Assombrações do Recife Velho, de 7 de agosto a 11 de outubro; e A Mulher do Trem, de 22 de outubro a 13 de dezembro.

Mais informações sobre os espetáculos que integram a Mostra através do site da Cia.:
http://www.osfofosencenam.com.br/

Fotos de João Maria e Shima

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