OS BEM-INTENCIONADOS, novo espetáculo do LUME Teatro investiga as intenções de um grupo de aspirantes a artistas que, numa conversa de bar, vasculham suas vidas à procura dos motivos que os levaram a querer ser artistas. O espetáculo é um elogio à arte, uma reflexão irreverente sobre suas perspectivas em nosso tempo e do trabalho artístico como expressão ou degrau para a fama, e dilui a separação entre palco e plateia, envolvendo atores e público em um mesmo espaço cênico, que recria um ambiente de bar com música ao vivo.
Criação colaborativa entre Grace Passô, que assina a dramaturgia e direção, e LUME Teatro, a montagem estreia logo mais, hoje, dia 27 e 28 de julho, no salão de baile da União Fraterna, dentro da MOSTRA SESC DE ARTES e depois segue temporada a partir de 1º de agosto no SESC Pompeia.
O Manga aproveitou para conversar com Warner Reis, figurinista do espetáculo. Acompanhe abaixo nosso papo.
Como
foi trabalhar o figurino, relevante a pesquisa individual de cada ator no
desenvolvimento de suas respectivas personagens? Em que momento entrou o
figurinista? Isso ocorreu ou os próprios atores já definiram as vestimentas?
Warner Reis: Se não me engano
este deve ser o terceiro figurino do guarda-roupa de “Os Bem-Intencionados”. O
primeiro foi criação do Lume; o segundo, resultado da parceria com Juliana Pfeifer para
um filme produzido pelo Labortório Cisco e esta versão final,
embarquei na viagem do Lume com a diretora e dramaturga
Grace Passô.
Quando os atores me
apresentaram o guarda-roupa dos Bem-Intencionados, fizemos uma sessão de fotos, que já ficou sensacional. Como personal stylist, conheci naquele dia os meus "novos clientes" – com
os quais venho desenvolvendo este
trabalho desde o projeto “Abre-Alas”,
espetáculo de rua de 2009. Cada ator foi muito sincero ao expor suas
figuras, inspirações e gostos.
Aprecio muito o olhar estético do Lume e já havia trabalhado com os
atores Naomi Silman, Ricardo Puccetti e Carlos Simioni, como consultor, e indiretamente, com os outros
atores por conta do “Abre-Alas”.
Praticamente, foi uma relação a três: eu, a figura e o ator, traçando conjuntamente a silhueta, as cores, definindo texturas e as formas sintagmáticas dos
trajes; além da ampliação e reforma das peças do guarda-roupa e dos acessórios da
figura. O resto foi correr atrás para adaptar, reformar, comprar, mandar fazer
e garimpar brechós, costureiras e
alfaiates, tarefas próprias do ofício de figurinista. Acho até que esqueci do Lume
enquanto grupo de pesquisa e me relacionei mais com as
figuras/personagens: Melisse Z, que é interpretada pela atriz Naomi Silman,
Márcio Mártin do ator Ricardo Puccetti, Rodrigo Ometto por Renato Ferracini, Maria
Alice Élice personagem da Raquel Scotti Hirson, Gonçalves Rodrigüez do Jesser de Souza,
Nataly Menezes da Ana Cristina Colla e Dagoberto Leão interpretado por Carlos Simioni.
Apresentei à diretora Grace o material colhido
dos meus "clientes" e, assim, fechamos o campo semântico dos trajes. As atrizes
me apresentaram uma proposta interessante, que foi o desejo de que os Bem-Intencionados
tivessem um guarda-roupa. E o trabalho tomou este formato. Portanto, só tenho
melhorado atuando com pessoas tão exigentes, caprichosas e, sobretudo, generosas.
2)Tomando pelo viés os figurinos, quem são os bem-intencionados?
Quais os tipos?
Só posso falar dos Bem-Intencionados por meio de suas
roupas. Em conversa com o ator Jesser de Souza, chegamos à conclusão de que o
“ser” bem-intencionado é aquele que, ao copiar a norma da aparência do outro
acrescenta muito mais de si do que do outro - recriando-se em novas formas.
Quanto aos tipos dos bem-intencionados, não gosto de conceituá-los como “bregas”,
pois acredito que este tipo já virou estilo e a massa que gerou o brega já esta
em outra. Os tipos em os "Bem-Intencionados" são tipos populares e procurei dar um
toque mais sofisticado para as figuras, pois acredito que o futuro, mesmo para
os mais populares, será de sofisticação; as pessoas tem tido acesso cada vez
mais à moda e aos cuidados com o corpo e isso deve gerar uma mudança na
forma como se vestem.
Acompanho os “Bem-Intencionados” desde o início de sua
formação, há mais de 10 anos, e,
sinceramente, ficava incomodado com aquelas figuras que pareciam demasiadamente
caricatas – ainda bem que a Grace deu aparência real para elas – e eu embarquei
nessa pegada empenhando-me em deixá-los mais singulares e, portanto,
mais próximos do desejo coletivo. Gosto dos tipos - dessas figuras - são simpáticas e divertidas. Quando
ando na rua, brinco de identificar as figuras do espetáculo nos transeuntes. A Élice, por exemplo, a personagem da Raquel, que poderia ser uma Nem, Cachorra, Vadia, Periguete, mas que no seu campo semântico é apaixonada pelo Rei da Jovem Guarda. A partir de informações como estas, busquei inspiração nas figuras femininas chamadas de "cachorras", além de elementos que compõem o estilo do Rei (Roberto Carlos). Estas informações aparecem na composição do figurino. Eu chamaria a Élice de garota papo-firme. Enfim, eles
ainda são meus clientes e talvez eles não gostem que fale muito sobre eles (risos).
3) O que destaca do processo de trabalho que mais
contribuiu para a criação ou definição dos figurinos?
Talvez eu seja contaminado demais pelo Lume e por isso,
destacar algo do processo seria difícil, mas a relação básica
ator-corpo-figurino já era algo que havia assimilado com o grupo. Sempre tive
este princípio como meta. O fato das figuras terem uma construção psicológica
casou muito bem com o trabalho do "personal",
pois podíamos discutir as figuras como usuárias ativas e tratá-las
individualmente. Isso foi muito importante para pensar o guarda-roupa, enfatizo isso, pois não era o figurino. Essa ideia de guarda-roupa ainda é um processo. O Lume
tem um jeito muito particular de se relacionar com o figurino: as peças são
tratadas com muito carinho, como se fossem parte deles, coisa que admiro muito.
4) Como é trabalhar como figurinista em uma companhia como o
LUME que preza tanto pela pesquisa de seus atores encenadores? O que destaca?
Trabalhei como figurinista e aderecista para o Lume no
espetáculo “Sonho de Ícaro” de 2010, depois disso colaborei na criação de
figurinos para o espetáculo “Abre-Alas” – projeto itinerante do grupo. Também trabalhei em projetos menores com atores do Lume, mas fora do grupo, como foi o caso de Naomi Silman e Ricardo Puccetti. Também estive no espetáculo “Concertato” (2011), com os clowns Teotônio, de Ricardo Puccetti e Carolino, de Carlos Simioni. Acho que este é o grupo com o que mais trabalhei
até agora. Em cada uma dessas oportunidades pude aplicar o que venho estudando
como designer de moda mais do que como figurinista. Aprendo muito com esta parceria e,
neste momento, só posso agradecê-los de coração por esta nova oportunidade, neste que é um projeto muito especial para eles.
Warner Reis é graduado em Artes Visuais pela Unicamp e Design de Moda pela CEUNSP. V isite a página http://picasaweb.google.com/warner.reis.junior
Fotos do espetáculo de Alessandro Soave e fotos do processo e imagens dos croquís integram o acervo pessoal e pesquisa de Warner Reis.
OS BEM-INTENCIONADOS – Criação – Atores do LUME Teatro e Grace Passô. Dramaturgia e Direção – Grace Passô. Elenco – Ana Cristina Colla, Carlos Simioni, Jesser de Souza, Naomi Silman, Raquel Scotti Hirson, Renato Ferracini e Ricardo Puccetti. Músicos – Marcelo Onofri (teclado), Leandro Barsalini (percussão) e Eduardo Guimarães (acordeão). Direção Musical – Marcelo Onofri. Desenho de Luz – Nadja Naira. Figurinos e Acessórios – Warner Reis.Cenotécnico – Elias Abrahan. Coordenação Técnica – Maria Emília Cunha. Projeto Gráfico – Chico Homem de Melo. Fotos e Vídeo – Alessandro Poeta Soave. Assessoria de Comunicação– Carlota Cafiero. Produção Executiva – Dani Scopin. Direção de Produção – Cynthia Margareth. Realização – LUME Teatro. Duração – 120 minutos. Espetáculo recomendável para maiores de 18 anos. Ingressos – R$ 24,00; R$ 12,00 (usuário matriculado, estudante com carteirinha e aposentado) e R$ 6,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes).
Dias 27 e 28 de julho, sexta-feira e sábado, às 21 horas
SOCIEDADE BENEFICENTE UNIÃO FRATERNA – Rua Guaicurus, 27 – Água Branca. Telefone: (11) 3672-0358). Ingressos à venda em todas as unidades do SESC. Capacidade – 150 lugares. www.sescsp.org.br.
De 1º de agosto a 30 de setembro, de quarta-feira a sábado às 21 horas e domingo às 19 horas. Dia 26 de setembro (quarta-feira) não haverá apresentação.
SESC POMPEIA – Espaço Cênico – Rua Clélia, 93 – Pompeia. Telefone: (11) 3871-7700. Acesso para deficientes físicos. Bilheteria – De terça a sábado das 9 às 21 horas e domingos e feriados das 9 às 19 horas (ingressos à venda em todas as unidades do SESC). Capacidade – 80 lugares. www.sescsp.org.br.
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