Na semana passada estive no MIS para conferir a exposição a respeito de Georges Méliès. Confesso que é uma sensação maravilhosa ver os poucos objetos, croquís e registro do que foi a obra desse artista. Entretanto, fiquei um pouco decepcionado com a curadoria e a concepção do espaço, sobretudo com a iluminação, que em alguns momentos atrapalha a leitura dos textos e legendas, não valorizam os croquís (ricos em detalhes) e, nem tão pouco, criam uma ambientação que poderia sugerir elementos tão importantes e presentes na obra de Méliès - a ilusão e a busca pela poética dos sonhos. Outra tentativa frustrada são os mobiliários expositivos e a ambientação das salas, desde a entrada principal, que são economicamente caracterizadas e não chegam próximas do clima da belle époque francesa, algo que potencializaria ainda mais o trajeto dos visitantes no encontro com a obra do artista. Na sala onde o público pode atuar num pequeno cenário, composto por réplicas de algumas peças do estúdio de Mélies, novamente falta uma pesquisa e um trabalho de arte na reconstrução dos adereços utilizados pelos visitantes, um trabalho que pudesse trazer objetos que reforçassem o espírito criativo e cuidadoso do artista com a sétima arte. É evidente o quanto a exposição é importante e se sustenta pelo próprio trabalho de George Méliès, mas sem dúvida, hoje, com tantas referências, valeria uma pesquisa mais elaborada por parte da empresa responsável por traduzir e distribuir tal acervo.
Numa carta de 1929, Georges Méliès escreveu que se não fossem os enormes esforços de seu pai, um fabricante de sapatos de luxo contrário à carreira de artista do filho, ele provavelmente teria ingressado na Escola de Belas-Artes e se tornado pintor. A história do cinema registra que não foi esse o destino do jovem francês e a partir daí deve-se a sua persistência e decisão em largar os negócios da família muito da origem da arte de filmar.
É, portanto, sempre tempo de celebrar Méliès. No ano passado, Cannes exibiu uma cópia restaurada em cores deViagem à Lua (1902), um de seus filmes referenciais. Também em 2011 Martin Scorsese fez sua homenagem ao pioneiro em A Invenção de Hugo Cabret. Essa memória agora é detalhada na exposição Georges Méliès – Mágico do Cinema.
Vem da Cinemateca Francesa e do espólio sob a guarda da neta Madeleine Malthête-Méliès uma centena de peças, entre cartazes, desenhos, documentos, figurinos, objetos e fotografias, além de 11 filmes, que dão conta da ampla atuação do inventor. O mágico a que se refere o título não é mera expressão. Méliès se interessou pelo ilusionismo e tornou-se ele mesmo um profissional da arte quando em 1895 presenciou a primeira sessão dos irmãos Lumière.
Um ano depois, adaptou as engenhocas que começavam a surgir e estreou seu primeiro filme, baseando-se nos truques que o entusiasmavam para criar efeitos especiais. Com a própria produtora Star realizou mais de 500 títulos. Era comumente ator, cenógrafo, produtor e distribuidor. Na mostra, Viagem à Lua será exibida numa nave espacial projetada para o evento. Na película, lançada em 1902 e a mais conhecida do pioneiro francês, foram utilizados recursos que consagraram o cineasta como inventor dos efeitos especiais para o cinema.
Os mundos construídos por Méliès, povoados com demônios, fantasmas, fadas e seres interplanetários, são apresentados em mais de 120 peças. São desenhos, fotografias, itens de figurino e filmes reunidos ao longo de 100 anos. Os objetos narram a história de como Méliès começou como ilusionista em um teatro e transportou suas habilidades para as telas de cinema.
“É uma exposição que foi montada pela cinemateca francesa, em Paris. Tem acervo da própria cinemateca e tem o acervo da família que foi comprado pelo governo francês”, explica o diretor do MIS, André Sturm.
A partir da exposição o visitante poderá entender um pouco melhor como o cineasta conseguia fazer seus efeitos especiais sem auxílio dos recursos técnicos disponíveis atualmente.
“Os efeitos eram feitos no set ou, no máximo, na câmera, com truques de filmagem, como filmar quadro a quadro, filmar o negativo duas vezes, para ter duas imagens no mesmo negativo. Mas tudo em operações que davam muito trabalho, mas que resultaram nesses filmes incríveis”, explica Sturm.
No dia 15, é a vez de os bisnetos de Méliès, Marie-Hélène e Lawrence Lehérissey, narrarem histórias dos filmes. A renovação artística da família é significativa ao destino desse precursor morto em 1938, aos 76 anos, depois de um declínio que o levou a abrir uma loja de brinquedos na Gare Montparnasse, ponto de partida do filme de Scorsese.
Essas imagens feitas essencialmente a partir da criatividade chamam a atenção de quem trabalha com a tecnologia de hoje. No processo artesanal, o artista algumas vezes pintava à mão cada um dos fotogramas do filme.
As peças trazem ainda um pouco do contexto da época, pouco depois da invenção da
imagem em movimento apresentada ao mundo pelos irmãos Lumière. “A tentativa foi de ambientalizar esse universo dele. Tentei recriar essa época do final do século 18, a belle époque francesa”, ressalta a diretora de arte da exposição, Carol Nogueira. Segundo ela, a mostra busca ainda fazer com que o público sinta a sensação de estar dentro do universo de ilusão criado por Méliès.
Para completar a experiência, os visitantes poderão fazer um filme usando os mesmos recursos do artista. Em uma das salas da mostra, foi montado um cenário com dinossauros, peixes-voadores e asteróides, onde os inscritos terão meia hora para montar um filme. As imagens serão editadas e disponibilizadas no dia seguinte em versão de 30 segundos.
exposição / cinema
Horário de visitação: terças a sextas, das 12h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
exposições 1º andar / Espaço Expositivo 2º andar
R$ 4,00 (50% de desconto para estudantes) | Entrada gratuita às terças
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