Fausto Viana fotografado por Fábio Chiba
Infelizmente não consegui prestigiar o lançamento do livro de Fausto Viana que aconteceu ontem, terça-feira, dia 1º de junho, na Livraria Cultura em São Paulo devido a uma gripe que me deixou de molho no sofá. De qualquer forma, o Fausto concedeu uma breve entrevista por email. O Manga agradece e o parabeniza pelo importante lançamento na área de figurino além de destacar seu trabalho enquanto grande pesquisador neste segmento.
Como está estruturado o livro? O livro é resultado de um trabalho de pesquisa que começou no ano 2000. A ideia principal era investigar como grande profissionais ligados ao teatro- e neste caso, diretores e/ou encenadores que propuseram alguma nova metodologia de interpretação- trataram do tema indumentária nas suas produções. Assim, fiz um recorte de sete encenadores- Adolphe Appia (mais teórico, mas que lançou questões fundamentais para o teatro do século XX), Edward Gordon Craig, Konstantin Stanislavski (fundamental pelo sistema de interpretação), Max Reinhardt, Bertolt Brecht, Antonin Artaud e Ariane Mnouchkine. Esta última é a mais contemporânea, viva e produzindo como nunca!
Traje Original do Conde de Almaviva (Foto: Fausto Viana)
Como foram as pesquisas para este novo projeto? Há quanto tempo ficou envolvido? Fui aos locais de origem ou de trabalho de quase todos eles. Estive em Moscou, visitei os acervos de Stanislavski, no Teatro de Arte de Moscou e na casa Museu Stanislavski, principalmente. Fui à Berlim, no Bertolt Brecht Archiv. Visitei o Thèâtre du Soleil em Paris, onde fui recebido por pessoas da companhia de forma muito generosa. Visitei também Hellerau, um subdistrito de Dresden, na Alemanha, que foi onde o Appia fez experimentações com o Jacques Dalcroze e que foi fechado logo depois, na Primeira Guerra Mundial. Entrei em contato com os responsáveis pelo que sobra dos acervos destes pesquisadores. Enfim, desde 2000 esta aventura vem acontecendo e o lançamento do livro marca apenas uma etapa neste processo, já que novos materiais e pesquisas continuam saindo o tempo todo.
George Bigot na sala de figurinos do Thêátre du Soleil, durante o ciclo de Shakespeare, 1982. (Photo: Martine Franck)
Como o Professor Fausto tem visto o segmento de figurino atualmente? Tem algum profissional, grupo, coletivo… enfim, que destacaria? Muito bem! Somos criativos e há muito tempo fazemos figurino de muita qualidade, naturalmente com altos e baixos. Como o país é de dimensões continentais, há muitas coisas diferentes e interessantes, o que torna impossível nomear uma pessoa só. Lembro desde os figurinistas anônimos que fazem as festas populares da igreja, do maracatú, das bordadeiras de Minas, dos anjos e procissão, do Gabriel Villela, do Fábio Namatame, do Márcio Medina, dos figurinistas dos teatros de grupo, das costureiras que animam os "desenhos" dos figurinistas, enfim, é uma multidão de criadores...
Afinal, quais são as renovações do figurino no século XX? Pois é, foi justamente para isso que eu escrevi o livro! (risos) É só folhear que todos vão ver com intensidade estes novos processos que levaram a renovação do teatro no século XX. Mas posso adiantar que o ator é fundamental neste processo. E que a figura do diretor surge com toda a força... Mais do que isso, é contar o final do filme de suspense!
Desenho de Artaud para O Fogo (1922), traje criado para Genica Atanisou
O registro e/ou documentação da área de figurino no Brasil é algo que ainda caminha lentamente, como o senhor olha e pensa essa questão? Muito lentamente, mas também não dá para ficar se queixando. De forma geral, muitas coisas caminham de forma bastante lenta aqui no país, não é? Este é um trabalho de perseverança, mesmo, de conscientização do nosso material cultural. Não dá para comparar o jovem Brasil com monstros sagrados europeus, como a França, a Inglaterra... A produção teatral nestes países já vem há muito tempo. Acho, neste sentido, que nós conseguimos muita coisa. Mas eles já têm políticas culturais há bastante tempo, teatro há muito mais tempo... E nós estamos em nível muito bom no plano da criação teatral como um todo. De trajes, então, nem se fala. Nosso trabalho é bem visto no mundo como um todo. Agora, o que venho procurando fazer é sistematizar as pesquisas, ampliar as discussões e formar pessoas novas para que este trabalho não seja em vão. Para as gerações futuras, vejo um espaço ainda melhor- tanto de criação como de documentação.
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